16/11/12

Não há actividade*


mais mesquinha e desprezível dentro de uma empresa do que a bufaria. Sem falsos moralismos, concedo – também já os fiz – comentários maldosos sobre chefias, colegas, clientes. Este tipo de maledicência, normalmente, esgota-se dentro de um círculo fechado, sem outros frutos que não uma gargalhada ou uma piada de circunstância. Um comentário sobre o mau hálito de um administrativo ou sobre os sapatos feios de um director não tem consequências para ninguém, nem sequer para o inocente alvo que há-de continuar despreocupadamente a falar a dois cm do nariz do próximo ou a exibir os seus magníficos mocassins plastificados de biqueira fina. E é perfeitamente democrático: haverá sempre um momento da nossa vida, em que seremos nós o alvo. Calha a todos e ainda bem.
Já a bufaria pertence a um campeonato diferente. Distancia-se da fofoca logo no objectivo. O bufo quer chegar a algum lado, ou seja, bufa para tramar alguém. O galhofeiro orgulha-se do que faz, que é simplesmente divertir-se e divertir os outros, o bufo tem vergonha de si próprio, precisa de se promover, tem um objectivo claro e definido. Usa um tom gelatinoso para actuar. Nunca é "pessoa para isso", está a bufar porque "a situação assim o exige". Porque "os interesses da empresa estão à frente das relações pessoais". O galhofeiro não pensa no futuro, vive o momento, é destemido e ataca ao pé da máquina do café, o bufo investe no longo prazo, é cobarde e age na surdina. Esgueira-se em passos de pantufa até à sala do patrão onde verte o seu fel, num fio de voz doce e cândido. 
Isto tudo porque hoje esbarrei num bufo em pleno exercício da sua actividade e, para evitar o vómito, parti em busca de cafeína. Abençoada máquina de café.   

*este post tem uma destinatária que, infelizmente, não é exemplar único na empresa onde ambas trabalhamos. Mas, sem dúvida, que é a que tem maior taxa de sucesso.