28/02/08

Com dedicatória (e a visada saberá reconhecer-se nela)

«Obstáculo foi coisa que jamais me importou; procurei sempre seguir nisto a lição dos rios: tiram a extensão e variedade de seu curso daquilo que se lhes opõe; ou das pedras: depende do que somos esbarrarmos nelas e nos queixarmos ou subir-lhes em cima e ver mais longe»
Agostinho da Silva

26/02/08

Na Gafanha, sim

«Durante vários minutos o homem, conduzindo um automóvel isento de carta de condução, andou de “prego a fundo” no cemitério. Obrigou as pessoas a fugir em pânico. “Algumas ficaram encostadas aos muros rezando, outras subiram para cima das campas, e outras ainda tentaram até entrar para dentro dos mausoléus”, acrescenta uma outra mulher ao CM. (…) Perante o olhar atónito dos populares, o condutor imobilizou o automóvel e saiu calmamente: “Com um chapéu na cabeça, calças de ganga, botas à cowboy e óculos escuros, sentou-se numa campa, estendeu os pés para cima de outra e acendeu um cigarro.” Quando os populares se aproximaram, para tentar perceber o que se passava, o ‘cowboy’ ainda questionou ironicamente: “Há algum problema?”»

Não, não é nenhum trecho de filme ou livro. Aconteceu mesmo e, imagine-se, na Gafanha da Nazaré. A notícia aparece assim no CM. Gostei do tom da escrita e do indubitável estilo do protagonista. Aquele movimento de se sentar numa campa e estender os pés noutra não é para todos. É para quem sabe e para quem pode.

25/02/08

Enjoy the moment, please

É hoje colocada a primeira pedra do novo hospital de Cascais, que se propõe realizar, todos os anos, 235 mil consultas, 98 mil diárias de internamento e 10.800 cirurgias em mais de 285.000 almas que vivem nos concelhos de Cascais e Sintra. Será com certeza um momento enternecedor, este de colocar a primeira pedrinha de um edifício cujo projecto foi levado a concurso público em meados de 2004. E lá porque o Tribunal de Contas se recusou a dar o seu parecer sobre a parceria público-privada porque não tem dados sobre o custo global da obra e não avaliou o interesse desta sociedade não quer dizer que não se possa gozar o evento. O futuro não é para aqui chamado.

21/02/08

Coisa estranha

Muitas, muitíssimas, famílias portuguesas continuam a investir alegremente os seus recursos financeiros em créditos para a casa, para o carro, para a torradeira, para a Bimby, para as férias no Sul de Espanha. Tanto que o endividamento dos portugueses cresceu mais de 10% o ano passado.
Da próxima vez que ouvir dizer que somos dos mais derrotistas da Europa, vou querer que me expliquem como é que um povo que acredita que consegue pagar mil e um empréstimos mesmo que lhe aconteça alguma contrariedade como ficar subitamente desempregado pode ser pessimista? Alguém vai ter que decifrar esta muito nossa esquizofrenia colectiva.

20/02/08

No dia 28, o CCB recebe, pela primeira vez, um leilão de arte contemporânea

Assim, à cabeça, gosto logo dos ‘The Egyptian Cats’, da Paula Rego. Portanto, vou ali ao banco levantar 250 mil euros e já venho. Até calha bem porque há alguém a presentear nesse dia, que é bem capaz de dar o justo valor à simbólica oferenda. Acho eu.

19/02/08

É isto mesmo

«Um típico rodriguinho dos jornalistas é a palavra "tabu". Já está por todo o lado nos relatos da entrevista de Sócrates porque ele resolveu não dizer já que se vai recandidatar, por razões que se percebe serem puramente retóricas, para afirmar que o que lhe interessa agora "é governar e não pensar em eleições". Por favor, deixem lá de usar a palavra sempre que alguém não quer responder numa determinada altura a uma determinada questão, como se fosse verdadeiramente um segredo, ou uma dúvida ou um "tabu"... Alguém pensa que Sócrates não respondeu porque não vai recandidatar-se ou não sabe ainda o que vai fazer? Poupem-me. Um pouco mais de imaginação e menos de estereótipos não fazia mal»

(Vi-me obrigada a roubar este post porque traduz exactamente o que penso de certas e determinadas bengalas)

18/02/08

E mais nenhum da rua tinha

Quando se encontra um papelinho preso no pára-brisas que diz “COMPRO TODO O TIPO DE CARROS” isso quer dizer exactamente o quê?

14/02/08

Podendo dizer cliente porque é que digo customer?

Se Fernando Pessoa estivesse vivo e fosse matraqueado diariamente com palavras como sourcing, fair share, commodities, fair price, layout, cross docking, trading up e trading down, place, customers, procurement, packaging, push, benchmarks, target, awareness, tasting & sampling, competitive advantage, concept, team building, tenho a certeza que acrescentava à frase ‘a minha pátria é a língua portuguesa’ um ‘fora aos estrangeirismos improfícuos’ ou um ‘fora o novo-riquismo linguístico’ ou, querendo ser mais radical, ‘morte aos que escrevem 'vencer' com cedilha mas que adoram pavonear-se com anglicismos muito-à-frente’.

13/02/08

É de homem

Valentim diz que vai golear o Ministério Público por 15 a zero no processo Apito Dourado. "Não me provoquem", diz ele. Vamos ficar todos quietinhos, então, e deixar os tribunais a resolver esta embrulhada onde está metido o Presidente da Câmara de Gondomar. Não vá alguém vir dizer depois que a sua constituição como arguido foi precipitada.

11/02/08

Mas que critério é este, pá?

Ontem foi dia de estreias compulsivas no Fox Life. TRÊS de uma assentada só. Da quantidade nasce a qualidade ou haja fartura que a malta agradece. Acho mal é esta concentração dominical, principalmente, quando temos que levar - diariamente à noite e no mesmo canal - com uma insuportável mexicana e a sua boca de arame dilatada. No hard feelings, Betty Feia.

08/02/08

Foi assim, de repente

(James Dean, nascido a 8 de Fevereiro de 1931)

07/02/08

YesterDate

Dica para os nostálgicos: parece que aqui é possível reencontrar o primeiro amor, uma mala perdida, uma mascote extraviada, e sabe-se lá mais o quê. Basta dar as coordenadas certas e esperar pelo regresso ao passado. Eu passo: tenho para mim que o que se perde para sempre é porque não é suposto ter lugar no futuro.

06/02/08

04/02/08

Desilusão

Parece que a história se resume a isto: uma empresária entregou ao director do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social de Braga um cheque de 20 mil euros para o pagamento de prestações em dívida à Segurança Social. No dia seguinte, o zeloso director tê-lo-á depositado numa conta de que era titular, depois de ter ele próprio escrito o seu nome no espaço destinado ao beneficiário. A mesma verba voltou a ser movimentada, desta feita para a conta da sociedade de advogados a que pertencia. Assim, limpinho.

Descoberta a trafulhice, o homem insiste que se enganou e que não “teve qualquer intenção de se apoderar da quantia”. Só não explicou como, o que acho normal: para fazê-lo teria que demonstrar alguma criatividade o que, manifestamente, não aconteceu em todo o processo que envolveu o abafanço dos vinte mil euritos. Até pode ser que cada país tenha os corruptos que merece mas eu fico triste com estas coisas. Acho que não nos dignifica nada ter intrujões tão patetas a exercer cargos públicos. Fica mal.