Porque os outros
usam a virtude
Para comprar o
que não tem perdão.
Porque os outros
têm medo mas tu não.
Porque os outros
são os túmulos caiados
Onde germina
calada a podridão.
Porque os outros
se calam mas tu não.
Porque os outros
se compram e se vendem
E os seus gestos
dão sempre dividendo.
Porque os outros
são hábeis mas tu não.
Porque os outros
vão à sombra dos abrigos
E tu vais de
mãos dadas com os perigos.
Porque
os outros calculam mas tu não.
Sophia de Mello Breyner Andresen
* para a mulher mais generosa e valente que conheço, que faz anos hoje.