30/04/07

Se calhar

Se calhar sou eu que ando céptica e sem vontade de acreditar muito nas pessoas mas a ideia de deixar as câmaras municipais deste país tutelarem livremente os Planos Directores Municipais (PDM) não me parece lá muito boa. Sou mesmo obrigada a concordar com o Francisco Louçã quando ele diz “que é um convite à especulação urbanística”. Numa sociedade a beirar a razoabilidade - sem autarcas da escola de Valentim Loureiro ou Avelino Ferreira Torres ou câmaras onde os presidentes não fossem arguidos de coisa alguma – até podia resultar e seria muito bom. Agora assim, cheira-me que caminhamos para a rebaldaria completa em matéria de urbanismo e planeamento. E também para o regresso do culto da personalidade ou do todo-poderoso lá da terrinha.
“Faça lá a obra, homem, que eu deixo”.
“Obrigado, senhor presidente, fico-lhe muito grato. O senhor presidente merecia era uma estátua”.
“Olhe que a ideia não me parece nada má”.

25/04/07

Verdade absoluta

Faz hoje 33 anos que ganhámos o direito de estar aqui a escrever tudo o que nos dá na telha.

24/04/07

Eu, portuguesa, quero dizer uma coisa ao Paulo Portas

Paulo Portas diz que «os portugueses querem que alguém diga a Sócrates o que tem de ser dito». E eu digo ao Paulo Portas que ele não tem nada que falar em nome dos portugueses -quando muito falará pelos militantes do PP que votaram nele.
Esta ideia de falar de e por nós, portugueses, como se fossemos uma ideia abstracta, uma massa amorfa e de trazer por casa já cheira mal. Ainda que perceba que o seu intuito passa muito mais por disparar frases que caiam bem nos jornais do que propriamente seguir à letra o que elas encerram. Típico.

23/04/07

Uma história

«Até morrer conservou no armário o esqueleto do capuchinho vermelho»

(Hoje é o Dia Mundial do Livro e o DN convidou 15 autores para escreverem uma história com dez palavras. Esta é a de Mafalda Ivo Cruz e a que eu gosto mais)

19/04/07

Posso estar enganada mas isto é que é um escândalo a sério

Sudão usa falsos aviões da ONU para levar armas para o Darfur
(Capa do Público de hoje)

18/04/07

As associações são nossas amigas

Tenho a ideia de que nós, os portugueses, somos gente muito afável, que não dispensa uma oportunidade de convívio. E quando devidamente motivados, não hesitamos em defender causas importantes no seio de grupos como a Associação para a Defesa do Vale de Bestança, a Associação Portuguesa de Venda Automática, a Associação Grupo Caras Direitas, a Associação Portuguesa de Peritos Contabilistas (só peritos, atenção, gente mediana não entra) ou a Associação Portuguesa para Promoção do Hidrogénio.

E depois há aquelas corporações a que ganhamos o direito de pertencer só porque nascemos. Por exemplo, a Associação dos Telespectadores (ATV). Não há uma alma neste país que não veja televisão, portanto, esta associação é de todos nós. Na impossibilidade de enfiar 10 milhões de portugueses numa sala a discutir conteúdos televisivos, há assim uma espécie de elite iluminada que decide pela maralha. Todos os meses elege os melhores e os piores programas.
Eu acho engraçado haver pessoas que decidem aquilo que eu acho que é bom ou mau sem sequer me perguntar. É um conceito agradável, um paternalismo quentinho e confortável. E o giro é que eles não só decidem o que é bom e o que é mau como até deixam uns conselhos como quem não quer a coisa. Tipo isto, por exemplo: “a ATV gostaria de ver um dia um Herman remoçado, rejuvenescido de ideias (…) Ele não terá amigos suficientemente sinceros que lhe façam ver isso".
Quem é amiga do Herman, quem é? A ATVêzinhaaaaaaaa!

17/04/07

Outro Delírio

«Hum… deixa cá ver. Nós temos gostos semelhantes, não deve ser difícil comprar roupa para a Marta R. Tenho que ver tudo com muita atenção. Ah, claro… e não posso esquecer-me. Tenho que ir buscar o bolo. Que ideia fantástica que ela teve, de juntar os nossos aniversários e fazer uma única festa hoje. Vai ser tão, tão divertido. Só espero que o David não se atrase»

16/04/07

Ernest & Marlene

«Cerca de 30 cartas, um telegrama e cartões revelam um intenso romance por correspondência entre o escritor Ernest Hemingway (1899-1961) e a actriz alemã Marlene Dietrich (1901-1992). Após conhecerem-se num transatlântico rumo aos EUA, em 1934, Hemingway e Dietrich envolveram-se numa história de amor platónico. Segundo o conteúdo da correspondência, os dois nunca mantiveram relações sexuais. As correspondências, que incluem sete cartas escritas à mão, 18 dactilografadas, quatro telegramas e um cartão de Natal, foram trocadas entre 1949 e 1959. «Nunca fomos para a cama (...). Fomos vítimas de uma paixão dessincronizada», escreveu Hemingway (...) Hemingway escreveu para Dietrich de lugares como Veneza, Paris, Málaga e Nairobi» (in Diário Digital)

O acaso no transatlântico. As cartas, os telegramas e os cartões a temperarem o sentimento ascético. Veneza, Paris, Málaga e Nairobi como cenários. Falhou aqui alguma coisa ou as minhas exigências românticas andam nos limites mínimos?

12/04/07

Abram alas

A Procuradoria-Geral da República mostrou-se disponível para fazer «todas as investigações que se mostrem necessárias ou que venham a ser solicitadas» relativamente ao percurso académico do primeiro-ministro.

Isto é coisinha para ficar resolvida para aí na 25ª geração Sócrates, contando a partir dos filhos dos seus filhos. Nada a temer, portanto. A verdade irá chegar. Nem que seja já numa versão hi-tech ou de teletransporte.

11/04/07

De boas maneiras

‘Um dos fundadores da Wikipedia e o criador do termo «web 2.0» pretendem publicar um código de conduta para os blogs, com o objectivo de estabelecer «boas maneiras» no debate digital’ (in Diário Digital). Blá, blá, blá, o resto da notícia fala ainda em apagar ‘os comentários que forem considerados falsos ou que violem direitos de autor, e até mesmo os anónimos’.

Adoro estas coisas dos “códigos de conduta” e das “boas maneiras”. Acho bonito, enternece-me. Quem não gosta de apaparicos e de afagos no ego que atire a primeira pedra. Ai, pedra, não, cruzes credo, que brutalidade. Que atire a primeira flor, assim fica melhor e ninguém se melindra.

09/04/07

Alhos e Bugalhos

A Elle convidou uma mão-cheia de franceses ditos importantes para discursar sobre o estimulante tema “O Que Querem as Mulheres”. Coisas de revista feminina sempre à procura de verdades absolutas sobre assuntos que de absoluto não têm nada. O acontecimento até podia passar despercebido não se fosse dar o caso de terem chamado o inefável líder da extrema-direita francesa, Jean Marie Le Pen, para opinar. A coisa descambou, tá claro. O homem aproveitou logo para sugerir a masturbação feminina como forma de prevenir gravidezes indesejadas, entre outras alarvidades tipicamente suas. A assistência revoltou-se, o assunto passou para as páginas dos jornais, o homem acrescentou mais uns minutos de fama à sua contabilidade. E nós continuamos sem saber o que querem as mulheres. Com excepção das da Elle: essas parece que gostam é de confusão.

05/04/07

04/04/07

Um delírio

Gostava que a teoria do “cá se faz, cá se paga” fosse mesmo séria. Comprovada cientificamente. Era tudo muito mais fácil, acho eu. Os bons só tinham que esperar ser ressarcidos na exacta medida das suas boas acções e os maus que insistissem em exercitar-se todos os dias teriam resposta à altura. Ninguém perdia tempo a congeminar vinganças. Era um descanso.

03/04/07

Pronto

Um grupo de cientistas dinamarqueses está um passo muito curto de conseguir produzir um tipo de sangue universal. Já no Reino Unido, há quem acredite que criar válvulas cardíacas em laboratório será possível num curto espaço de tempo. Nós por cá, também não nos podemos queixar: Lisboa tem mais qualidade de vida do que Nova Iorque e Milão, diz um estudo norte-americano. Não fosse saber que a birra de Alberto João Jardim em querer eleições regionais vai fazer o estado desembolsar 1,2 milhões de euros, o mundo hoje podia ser quase perfeito. Ele há dias assim. Em que só apetece ver a realidade com óculos de barbie.

02/04/07

Foi ontem

Porque é que não se diz do Dia das Mentiras que devia ser todos os dias como no dia da mãe e do pai, da mulher, do hemofílico e do portador do sindroma de fadiga crónica? Por uma questão de coerência de raciocínio. Só por isso.