18/07/07

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É fatal como o destino e como a notícia: sempre que acontece uma tragédia que envolve um grande número de vítimas, os jornais apressam-se a procurar imediatamente entre os corpos um nome ou referência ou uma vaga descendência lusa, perdida no tempo e no espaço. Esta noite, não houve um terrível acidente aéreo em São Paulo que pode ter vitimado 250 pessoas. Para os jornais portugueses online e a avaliar pelos cabeçalhos de 99% deles, a notícia é que houve um português que morreu no acidente. Como se no fim da linha a nacionalidade ditasse alguma diferença para quem fica.

27 comentários:

Miguel S. disse...

Junto-me a ti nesse misto de indignação e incredulidade. Ontem, na SIC Notícias, levei largos minutos para conseguir ouvir a procedência do avião em causa (Porto Alegre, onde tenho amigos), porque só parecia interessar descobrir se havia portugueses a bordo ou não...

Capitão Gancho disse...

Na verdade até hoje, ainda não entendi isso.
Porque essa necessidade desenfreada de noticiar a nacionalidade das vítimas? Será que é igual nos outros Países?

Nunca esse português foi tão igual aos brasileiros dessa tragédia, como neste momento, que constitui um amarfanhado de carne carnonizada.
È o vampirismo das noticias em todo o seu explêndor.

Que todos( sem excepção de raças ou credos )descansem em PAZ.

Unknown disse...

Não sei ao certo quem disse isyo (acho que foi Estaline ou um Nazi daqueles mesmo pouco recomendáveis) que disse que um milhão de mortos é uma estatística enquanto uma pessoa morta é uma tragédia.
Acho que a nossa comunicação social se bate pela mesmo cartilha.

Anónimo disse...

Plenamente de acordo com este Post que colocaste. Aliás, o meu primeiro pensamento ao constatar a noticia foi exactamente esse. Será que é assim tão importante a nacionalidade do Português numa tragédia desta dimensão. De facto, havemos de ser eternamente "pequenos".

rps disse...

Discordo do que aqui é dito. O critério da proximidade é fundamental para a notícia.
E, por ser no Brasil, este acidente também foi e será por mais um dia mais noticiado do que se tivesse ocorrido na China. Por muito que a morte de um chinês e a morte de um brasileiro sejam igualmente trágicas.

Pela lógica deste post, a notícia deveria ser dada por um jornalista lavado em lágrimas...

marta r disse...

rps: não percebo o que leu neste post que o terá levado a concluir que a notícia deveria ser dada "em lágrimas". É que não percebo mesmo, juro.

Já a lógica da proximidade, sempre me irritou. Mais agora, que serve para explicar tudo. E para justificar a revoada de notícias que hão-de chegar nos próximos dias sobre os últimos momentos deste português antes do embarque fatal.

Alf disse...

Caramba. Está tudo dito aqui. E muito bem dito.

Paz às 250 almas.

Luís F. disse...

Nem mais, concordo contigo!
Estas particularizações soam-me sempre a sensacionalismo…
O que fica tristemente registado é o elevado número de vítimas.

Leonor disse...

Cultura jornalistica própria de uma sociedade muito virada para o seu umbigo!
Não percebo essa necessidade de aproximação da catastrofe para que então, e só então, ela seja realmente enorme!
Confesso que quando ouvi a noticia, a única coisa em que pensei foi, "que tenha sido rápido, para todos, que tenha sido rápido".

Anónimo disse...

È triste mas é verdade. E quando não encontram um português procuram descendentes.

250 mortos é obra.

Anónimo disse...

Já agora quem quiser ver:

O acidente foi assim :

http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u312781.shtml

Os videos do acidente :

http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL72010-5605,00.html

Suzi disse...

Não te espantes. Também aqui se faz algo parecido. Havia um Deputado e um Advogado de Clube de Futebol. Procura-se sempre destacar alguém dentre as vítimas, como se essa informação fizesse a diferença. Esse tipo de notícia só nos irrita e causa indignação. Faz pensar que os demais eram apenas corpos. Não sei que escola é essa em que ensinam assim os que escrevem tais coisas...

Anónimo disse...

Infame, diria... Mas utilizando as palavras de Borges , Anselmo : "Para perceber uma sociedade, talvez mais importante do que saber como é que nela se vive é saber como é que nela se morre e se tratam os mortos."

Belzebu disse...

E o mais preocupante é pensar que na perspectiva da comunicação social, caso não houvesse um português entre as vítimas, a morte de 250 pessoas e as razões do acidente, nem seriam notícia!

Um abraço infernal!

Babe Certificada disse...

Vou falar num tom mesmo estúpido, mas a ideia com que se fica é a de alguém que vem a correr e diz "Um avião caiu.", um outro esfrega as mãos de contentamento e diz "Ainda bem, que isto das eleições já não chega. Vê se há portugueses e o que iam lá fazer. Vê se há alguém conhecido.". Depois, sobre o número de vítimas. "Falam entre 150 e 200, talvez mais." e vai o outro "Diz que são 250!".

Bruna Pereira Ferreira disse...

A deturpação da realidade anda de mão dada com o jornalismo. Infelizmente...

Ana Isabel disse...

Totalmente de acordo Marta. É uma questão doentia esta...

Alexandra disse...

E agora? Ainda há gente que se debata tanto pela Portela?

rps disse...

Cara marta r...
Aceito que o critério da proximidade para hierarquização das notícias a irrite. A mim também me irrita um monte de coisas.
Mas, do meu ponto de vista, é um bom critério. Claro que a morte de um português é uma tragédia exactamente como a morte de 20 chineses.
Noticiosamente, em Portugal, a morte de 20 chineses não interessa nada. Há que ter esta frieza.
A expressão do "lavado em lágrimas" foi usada para reforçar essa ideia.

pensamentosametro disse...

Costumo chamar a estas notícias mórbidas e grotescas, Síndrome de Conde Drácula, que me perdoem as excepções, mas a regra é: mau jornalismo, jornalismo sensacionalista e de orelha fácil.



Tita

Miss Alcor disse...

Nem mais!
Grande post!
Agora lembrei-me do 11 de setembro. Já na altura foi a mesma coisa... no entanto quando as pessoas morrem aqui, às vezes nem se fala delas!!!

Anónimo disse...

Marta,para mim, parece-me que quando há um português envolvido nalguma tragédia,um acontecimento,aí para tudo!A coisa passa a ser logo outra,mais séria,muito mais grave,ou em contraposição se a notícia for alegre,aí já é caso para desconfiar.

ERGELA

Alba disse...

Concordo com o teor do post e da maioria dos comentários.

Mas há um ponto que gostaria de focar: Quando, perante uma catástrofe, natural ou não, num país estrangeiro, os media referem "não haver portugueses entre as vítimas", muita gente, muitos portugueses, sobretudo, que sabem de familiares ou amigos, igualmente portugueses, a residir ou a visitar ()no tal país, sentem-se, de imediato, descansados.

Depois virá, ou não, a dor pelo "sangue dos outros". Mas, aquele suspiro de alívio, resultante do nosso posicionamento naturalmente egocêntrico, manifestou-se libertando muita ansiedade.

Neste caso morreu um português - pensa-se "será x?, não, credo, a probabilidade é mínima..." mas não sossegamos enquanto não soubermos.

O que a comunicação social faz com essa informação é outra coisa e sobre ela não versa este comentário.

Resumindo, penso que este acentuar da existência ou não de portugueses em cenários de desespero cumpre uma função muito básica, muito tribal, quase do foro "animal", no sentido de zelarmos pelos "nossos" e só depois, passada a agitação pensarmos nos outros.

Mas não é isso parte da essência humana?

Zorze Zorzinelis disse...

Não é mais do que o "transporte de gado" - é assim que as companhias e os jornais tratam os passageiros!

PP disse...

Concordo totalmente , Marta.
Isso também sempre me irritou.
Por um lado diz-se não à discriminação, todos diferentes, todos iguais.
Por outro.., o que interessa quando hà uma tragédia assim é se hà Um português entre as vitimas.
No fundo isso manifesta o tribalismo do ser humano.
Um da nossa tribo ( da nossa nacionalidade) é mais importante do que dez da tribo dos outros.

magarça disse...

E, para maior "entusiasmo" dos jornais , o portugues era irmão de alguem conhecido. Triste "jornalismo" o nosso, de facto...

Alien David Sousa disse...

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Beijinhos