08/01/08

Menina e Moça

«Desejaria uma mulher capaz de dirigir um bom jantar e até de o fazer, sendo preciso... mas que não me massacrasse com queixas por causa do racionamento e dificuldades do mercado: a falta de peixe, o preço das batatas, etc. Nem me contasse intermináveis histórias domésticas: a criada que namora um polícia, o gato que bebeu o leite (...).

Uma mulher que me deixasse ler o jornal em paz, sem me interromper a cada momento ou ficando amuada porque não lhe presto atenção (...) Uma mulher que não olhasse para a minha mãe com olhos de nora ciumenta (...) mas que fosse para ela mais uma filha, evitando-me complicações familiares (...)

Uma mulher que não me desiquilibrasse o orçamento com as contas da modista mas que se contentasse de vez em quando com um vestido arranjado (...) Uma mulher capaz de compreender a doce sujeição que a esposa deve ao marido e não proclamasse a cada momento "cá em casa mando eu"(...) Uma mulher que não continuasse a flirtar depois de casada (...) e que só a mim desejasse agradar (...) Uma mulher que não fosse uma máquina falante, tagarelando sem descanso, mesmo quando não tem nada que dizer.

Por conseguinte, a mulher ideal deverá ser boa dona de casa mas sem massar os outros com os acontecimentos caseiros, compreensiva dos gostos e necessidades alheios, afectuosa para a família do marido, pontual, discreta, económica, sincera e leal, com bom génio, dócil, séria, pouco tagarela e sem usar baton. Será alguma de vós o melro branco?»


Revista Menina e Moça (M&M), edição de Janeiro de 1948 - Excerto retirado do livro 'Mocidade Portuguesa Feminina', da historiadora Irene Flunser Pimentel

15 comentários:

Suzi disse...

1948??
Às vezes tenho a impressão que o texto é tão atual!

p.s.
já se encontra, à venda, um exemplar do tipo, mas atende pelo nome de "robô doméstico". mas talvez ainda não atenda aos interesses, porque, como toda máquina que se preza, custa caro e exige manutenção.
:o\

Francis disse...

ahahahahahahahahahahah
outros tempos.

1entre1000's disse...

concordo com a suzi... de facto houve partes q m pareceram tao presentes...

Luís F. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luís F. disse...

Passados 60 anos, muito “bom” homem ainda sonha com uma mulher assim…

Miguel S. disse...

Melro branco? Adoro. hahahahahahahaha

tulipa_negra disse...

grande lol
o que eu me ri com este texto

a tua veia humorística está ao rubro hoje, marta!

Mushroomdeluxe disse...

espero que o melro branco nunca tenha pousado em tal quintal...

Francis disse...

são as originais de ermesinde ?
aquelas muito boas muito boas ?

João Silva disse...

eh pah...era mesmo isso! mesmo mesmo...e que ainda fosse, acima disto tudo como diz a canção do marco paulo: "uma lady na mesa, e uma louca na cama"!

Noz disse...

Tenho de concordar com a seguinte informação:

"Uma mulher que não continuasse a flirtar depois de casada"

Custódia C. disse...

Este livro está de facto, um retrato genial de uma determinada fatia da sociedade portuguesa da época :)

Anónimo disse...

quantos sonham ainda com uma mulher assim? e quantas ainda são tratadas assim?

Anónimo disse...

Uma coisa é certa, não viveria com uma pessoas que não DESEJA-SE ser assim, ou que fosse em tudo o contrário.

Luís Maia disse...

Mas as mulheres já não são todas assim ? !!!

Luís Maia