Mulheres

As mulheres votaram ontem pela primeira vez no Kuwait. Vinte e oito delas candidataram-se às eleições legislativas mas, a menos que aconteça um milagre, nenhuma irá sentar-se no Parlamento. Já foi uma aventura levar a campanha até ao fim. Todas receberam ameaças de morte e viram os seus cartazes vandalizados. Uma desistiu pelo caminho. Enquanto isso, os candidatos homens, indiferentes às dificuldades do género oposto, investiram toda a sua energia no marketing: montaram tendas com lustres de cristal e luxuosas tapeçarias, ofereceram bebidas frescas e chocolates e nem se esqueceram de montar ecrãs gigantes para assistir aos jogos do Mundial.
O Kuwait é considerado o país mais aberto dos Estados do Golfo Pérsico. Portanto, os outros - Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Qatar, Bahrein, Iraque e Irão - ainda são piores.

Com licença, vou ali brindar à minha nacionalidade e já volto.

Soluções à sua medida

O carro anda a dar problemas? Troca-se o leasing.
A casa tem humidade? Contacta-se a Remax.
O bikini não serve? Corre-se para o ginásio.
As contas aumentam? Pede-se um crédito individual.
O chefe não pára de chatear? Cumpre-se o horário à risca.
O empregado não produz? Retira-se o Messenger.
O filho anda birrento? Compra-se uma Playstation.
A mulher sofre de enxaqueca? Liga-se às amigas descomprometidas.
O amigo está deprimido? Manda-se uma SMS.
O namorado é um chato? Troca-se por outro.
O cão está velho? Abandona-se no pinhal.
A avó sente-se só? Envia-se uma caixa de bombons.

Bem-vindos ao maravilhoso mundo das soluções rápidas. Entrem, entrem. Sintam-se em casa. Se não gostarem, mudem de post porque este é um elogio ao descartável. É um convite à preguiça mental. Porque é que havemos de perder tempo a reflectir e não partimos logo para a acção? O mundo não pára. Para o lixo, o que não serve. Ou o que não nos serve a nós, que vai dar ao mesmo. Nada de lamentações ou nostalgias, que isso é coisa de fracos. Nada de confiar na eternidade das coisas. Nada de acreditar nos outros. Nada de conjugar realidade com verdade. É trocar o que está mal e pronto. Para a frente é que é o caminho.

Super Homem

Depois dos cowboys gay, há mais um mito norte-americano a querer ruir. As suspeitas sobre a sexualidade do Super-Homem andam a abalar as cabeças mais puritanas e a beliscar a masculinidade do herói da capa vermelha e do "S" ao peito. A bomba estoirou antes da estreia do filme Superman Returns nos EUA e todos os dias aparecem novos argumentos a fundamentar esta mirabolante tese: parece que há posters do filme com o herói em poses ambíguas (?), há cromos em que se vê o rapaz a sair de um armário (?), há promoções do filme num "canal gay"norte-americano (?) e há referências à sua suposta homossexualidade em revistas gay (?).

Claro que há também 200 milhões de dólares que foram investidos em Superman Returns para serem recuperados nas bilheteiras o mais rapidamente possível. Seja à custa de boa ou má publicidade. De espectadores heterossexuais ou homossexuais. É indiferente. Venham mas é os dólares que os cães ladram mas a caravana passa.

Um delírio

Assim, de repente, se me perguntassem que tipo de cantora é que eu gostava de ser respondia que não me importava nada de ter a rouquidão da Joss Stone, a sensibilidade da Teresa Salgueiro, a imaginação da Bjork, a suavidade da Adriana Calcanhoto, a loucura da Madonna, a nostalgia da Aimee Mann, o calor da Cesária Évora, a pujança da Ute Lemper, a doçura da Sara Tavares, a versatilidade da Maria João, a musicalidade da Billy Holiday.

À falta disto tudo, contentava-me em saber cantar os parabéns como a rapariga aqui da foto.

Victoria versus Merche

Esta mulher diverte-me. Não consigo evitar ler o que se escreve sobre ela. Não consigo. É mais forte do que eu. Pois acabei de saber que a Victoria Beckham foi às compras num centro comercial alemão e em dez minutos - DEZ MINUTOS - gastou 4.395 euros em camisas e sapatos. Pronto, já está. Prometo que só volto a este assunto quando descobrir que a Merche não precisou de mais do que cinco minutos para limpar o stock de diamantes da Cartier.

O Dia Seguinte

Às segundas à noite, a SIC Notícias tem um programa que se chama O Dia Seguinte. A insuspeita Marktest diz que é dos mais vistos do canal e, pasme-se, até do cabo. É apresentado por David Borges e tem três comentadores de serviço que fazem o rescaldo do fim-de-semana desportivo que é como quem diz comentam as últimas da futebolândia. Acho graça aos três senhores que defendem as suas damas (leia-se clubes). Começam sempre com o ar de quem não parte um prato mas, dois minutos depois, já estão engalfinhados e a perder a pose. E nem agora, que têm todos a mesma equipa, sossegam nas divergências. Lembram-me os velhinhos dos Marretas. Não sei porquê.

Klimt

Adèle Bloch-Bauer de Gustave Klimt

Este quadro tornou-se ontem o mais caro da história ao atingir o valor de 135 milhões de dólares num leilão nos EUA. Foi pintado em 1907, roubado pelos nazis durante a segunda Guerra Mundial, entregue ao governo austríaco e depois à neta de Adèle Bloch-Bauer e agora vai estar na Neue Galerie de Manhattan, o museu nova-iorquino dedicado à arte alemã e austríaca.

Parece-me bem. A arte deve estar ao alcance de todos e não refundida numa qualquer sala de estar de um milionário para fazer pendant com os cortinados do mesmo tom.

Ahmadinejad

O homem tem em marcha um programa nuclear capaz de acabar com este mundo e o outro. As grandes potências ocidentais andam cheias de medo e desdobram-se em conversações para não irritar o homem. Ele sabe do poder que tem e diverte-se com isso. Ontem, por exemplo, voltou a mandar mais umas bojardas descontraídas sobre o Holocausto Nazi. Disse que "o extermínio dos judeus continua a ser um facto por provar" e sugere "uma investigação independente e imparcial sobre o assunto". Os alemães rezam para que o Irão amanhã perca com Portugal no Mundial de Futebol para não terem que receber este homem no seu território nos oitavos-de-final. Just in case, não convém nada maçá-lo. Se ele se zanga a sério, acaba-se o Mundial. Se ele se zanga mesmo a sério, ainda acaba mas é com o Mundo.

Invencíveis

Além das asneiras, há coisas que se espalham entre os miúdos a uma velocidade vertiginosa. Refiro-me aos piolhos. Basta um destes parasitas pousar numa cabeça mais desprotegida para que logo 200 outras cabeças recebam todos os seus familiares e amigos em alegres tertúlias. Os bichanos gostam de escolher moleirinhas frágeis e distribuem-se em locais onde elas abundam com fartura, tipo colégios, creches e campos de férias. Não seleccionam estratos sociais: tanto atacam miudagem das barracas como pirralhos da Quinta da Marinha. É um fenómeno transversal e universal. O engraçado é que - excluíndo o mítico Quitoso - não se conhece vacina ou medicamento que lhe faça frente condignamente. Os nossos bisavós (para não ir mais longe) tiveram piolhos, os avós e pais idem. E nós também. E os miúdos de agora também. E provavelmente os futuros filhos destes miúdos também terão.

Os piolhos estão a tornar-se invencíveis, diz um estudo do Serviço Nacional de Saúde de Gales. Pfff... grande descoberta! Para mim, eles sempre foram assim. Resistentes, sociáveis e democratas, sem olhar a credos ou religiões. Numa próxima reencarnação e se me for dada hipótese de escolha, quero ser um piolho. Até pode ser encardido.

Ideia

O Governo francês acaba de lançar um jogo online no qual os cidadãos franceses são convidados a gerir o orçamento anual do país. O vencedor pode vir a assumir a pasta das Finanças por um dia.

E se fosse cá?

Não sei se haveria sequer concorrentes. Acho que os portugueses preferiam o lugar do Scolari ao do Teixeira dos Santos. Pelo menos, conhecem mais jogadores de futebol do que secretários de estado. Já para não falar de estratégias de jogo. Quem as não tem?

Porque isto não é só festivais de rock

Caetano Veloso vem a Portugal para realizar um concerto único no CCB.

Em Agosto, mais precisamente no dia 2. Eu quero ir. Vou convidar a CR e oferecer-lhe o bilhete.

(A pausa para a futilidade prossegue até amanhã. Tenho mais sapatos para comprar).

Pausa para a futilidade

10 Coisas que me Intrigam

1. As ementas dos restaurantes chineses. Como é que eles conseguem ter tantos pratos na lista e em dez minutos satisfazerem o nosso pedido?

2. Alguns hábitos dos reformados. Porque é que eles vão às compras, aos correios ou às repartições públicas à hora do almoço ou ao fim da tarde quando têm o dia inteiro para o fazer?

3. As previsões astrológicas. Porque é que a Maya anuncia que a minha semana vai correr às mil maravilhas e o Paulo Cardoso aconselha-me a não sair de casa?

4. Algumas manchetes das revistas cor-de-rosa. Porque é que elas anunciam uma entrevista exclusiva à Merche Romero quando, nessa semana, ela faz declarações em tudo quanto é publicação?

5. Os bolos a sair do forno. Porque é que fazem dor de barriga se os comermos quentes e o resto da comida não?

6. Fazer a cama. Porque é que temos que arrumá-la de manhã para desarrumá-la à noite?

7. A depilação definitiva. Porque é que se chama definitiva se os pêlos voltam a aparecer uns anos depois?

8. As férias dos portugueses. Porque é que se diz que não temos dinheiro para mandar cantar um cego e há destinos turísticos totalmente esgotados para Agosto?

9. A taxa de natalidade. Porque é que há pais a inscrever crianças que ainda não nasceram nos infantários porque estes estão lotados se cada vez há menos nascimentos no nosso país?

10. O cancro. Porque é que nos jornais se diz sempre que determinada pessoa morreu vítima de doença prolongada em vez de cancro?

Edward Hopper

(Cape Cod Morning, Edward Hopper

National Museum of American Art, Washington, D.C)

"I Think i´m not very human, I didn´t want to paint people posturing and grimacing. What I wanted to do was to paint sunlight on the side of a house".

CSI Beja

Uma onda de furtos em várias edifícios como a Biblioteca Municipal e a Casa da Cultura interrompeu por alguns dias o habitual dolce fare niente da cidade de Beja. A PSP local colocou-se imediatamente em campo apesar do calor não permitir grandes movimentações no terreno. Após uma delicada mas bem sucedida investigação que durou três semanas, as autoridades conseguiram deitar a mão aos criminosos e recuperar parte dos objectos furtados. Trata-se de uma rede organizada de nove menores entre os 11 e os 15 anos que se dedicavam ao roubo de gomas, chupas e rebuçados. O processo já foi encaminhado para o Tribunal e os alentejanos podem suspirar de alívio. O sossego voltou.

Importa-se de repetir?

«Ler sempre foi e sempre será coisa de uma minoria. Não vamos exigir a todo o mundo a paixão pela leitura. O estímulo à leitura é uma coisa estranha».
(José Saramago, a propósito do Plano Nacional de Leitura apresentado hoje pelo Governo).

Estranho é ouvir um Nobel da Literatura dizer isto.